sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Modelo Pedagógico da Universidade Aberta

Antes de comentar o Modelo Pedagógico da Universidade Aberta considero conveniente fazer algumas considerações prévias.

1. Um Modelo Pedagógico é sempre um conjunto de regras, mais ou menos discricionárias, estabelecidas pelos “peritos”, que têm como objectivo fundamental afastar os outros da sua discussão e promover a sua aceitação, contribuindo para a sua legitimação.

2. Cumpre recordar que a Pedagogia não é nenhuma ciência, mas um conjunto de práticas que variam em função das representações sociais do ensino. Não posso desenvolver este tema aqui, num texto tão curto, mas facilmente se recorda esta disciplina se integra nas Ciências da Educação porque não existe uma Pedagogia, mas pedagogias...

3. Qualquer modelo pedagógico, para garantir o seu equilíbrio e eficiência, tem de dispor de um mecanismo regulador que lhe forneça indicações sobre o seu funcionamento: a avaliação. O que avaliar? Como avaliar? A resposta a estas questões depende das concepções pedagógicas do sistema e dos professores. Sublinhe-se que o entendimento professoral da avaliação é influenciado pelas diferentes concepções pedagógicas. Por exemplo, Nova refere que no âmbito das Ciências da Educação confrontam-se actualmente duas perspectivas de avaliação: na perspectiva contextual a avaliação é inseparável do contexto em que a aprendizagem tem lugar e o seu objecto são os processos associados ao desenvolvimento cognitivo, afectivo e moral que os alunos exibem no desempenho de tarefas diversificadas de aprendizagem; na perspectiva psicométrica avaliam-se, preferencialmente, produtos da aprendizagem, recorrendo a testes que evidenciam o grau de consecução dos objectivos, os quais são precisos e quantificáveis.

4. Para não desenvolver excessivamente estes comentários preliminares iremos associar a perspectiva contextual ao paradigma do jardineiro, e a perspectiva psicométrica ao paradigma do oleiro. O oleiro molda o barro assumindo inteira responsabilidade pela formação das suas peças, tal como o professor da perspectiva psicométrica se sente responsabilizado pelos resultados dos seus alunos. O jardineiro cuida do jardim mantendo um ambiente favorável para o desenvolvimento das plantas, mas não molda as flores, que crescem de acordo com a sua natureza. O professor que assegura aos alunos um clima de aprendizagem propício com tarefas diversificadas sabe que nem todos têm as mesmas possibilidades de sucesso, mas actuando indirectamente sobre o ambiente de aprendizagem dos alunos estará provavelmente a dar mais oportunidades aqueles que têm menos ferramentas cognitivas e que mais necessitam de um quadro afectivo e moral de referência.

5. O Modelo Pedagógico da Universidade Aberta para o 2º Ciclo de Estudos difere do modelo do 1º Ciclo (Licenciaturas) num ponto fundamental. No 2º Ciclo é excluído o recurso a exames presenciais como modo de avaliação a utilizar, definindo-se o Contrato de Aprendizagem como elemento estruturante em cada UC, onde o professor "constrói um percurso de trabalho a realizar pelos estudantes, com base em recursos disponibilizados ou bibliografia indicada, organiza e delimita zonas temporais de interacção diversificada (...)" (Modelo Pedagógico Virtual da Universidade Aberta, p. 30), enquanto nas Licenciaturas é habitual um exame presencial no final de cada disciplina. Exclusivamente no 1º Ciclo entende-se necessário credibilizar o modelo de ensino virtual com uma componente presencial complementar, cuja avaliação "poderá assumir a forma de uma prova escrita (...) em algumas unidades curriculares" (Modelo Pedagógico Virtual da Universidade Aberta, p. 17). Não há nenhuma justificação teórica para esta discrepância no “Modelo Pedagógico”. O que sucede simplesmente é que relativamente aos alunos do 2º Ciclo já houve uma selecção anterior que dispensa a UA da realização de exames, enquanto ao 1º Ciclo é mais fácil chegar, e entendem que a selecção pode não ter sido suficiente para aplicar o mesmo “Modelo Pedagógico”, isto é, o modelo depende do contexto.

6. Reportando-me agora ao Modelo do 2º Ciclo este refere um conjunto de princípios que nada adiantam, além de apresentarem a lógica da avaliação online como um modelo simples, transparente e coerente:
- o Princípio da Aprendizagem Centrada no Estudante;
- o Primado da Flexibilidade;
- o Primado da Interacção; e
- o Princípio da Inclusão Digital.
Realmente referi mais sobre o modelo de avaliação no anterior ponto 5. do que referem estes 4 princípios/primados juntos, pois a realização de um exame no final da disciplina é um modelo pedagógico mais selectivo que a sua não realização.
Ao nível do 2º Ciclo a Universidade Aberta adopta o paradigma do jardineiro porque já somos crescidos demais para ser moldados, e já temos obrigação de ser autónomos.

Quando ao ensino online só se consegue conceber a avaliação centrada no estudante porque o professor neste tipo de ensino assume-se como um organizador dos processos.

A flexibilidade é uma característica da estrutura física utilizada no ensino online que existiria independentemente do primado.

A interacção idem. Os professores poderão valoriza-la mais ou menos, de acordo com as suas idiossincrasias.

O princípio da Inclusão Digital é básico numa sociedade democrática, e tendo em consideração que a Internet também pode ser utilizada para adquirir formação noutras escolas, mesmo até em Universidades estrangeiras, a Universidade Aberta deverá acautelar-se com a concorrência.

Resumindo, o Modelo Pedagógico está no entendimento da sua avaliação. No 2º Ciclo privilegia-se a avaliação continua, comprometendo os alunos com o trabalho escolar através da negociação de um Contrato de Aprendizagem em cada unidade curricular.

Utilizando a Internet a aprendizagem será sempre colaborativa, porque as pessoas contactam entre si. É inteligente definir à partida que o ensino é colaborativo para forçar mesmo a interacção e evitar o peso de colaborações ilegítimas.

Faz todo o sentido valorizar as tarefas assíncronas, única forma de não comprometer a flexibilidade de horários. Além disso, os conteúdos com valor em termos de comunicação multimédia são objectos que podem ser utilizados em qualquer momento, não são as videoconferências em directo!

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